11 de março de 2010

Carta aos esquecidos:

Os dias passam por mim, Marie. Um depois do outro com uma fatia escura entre eles, dizem Noite. O tempo está quente e úmido. Há três noites chove, sempre na mesma hora. Tenho que fumar escondida sob as marquises do centro. Escondida da chuva? Também. Sinto que devo escrever. A Vida quer dizer, através dos meus dedos de unhas sujas, sobre as tristezas veladas que doem quietas e morrem mudas pela falta de boca. Sinto-me um pouco vivendo para fora de mim. Meu corpo um simulacro das batalhas que (não) luto. Imperfeito. A janela d'alma sempre fechada na tentativa de conter o que não pode ser contido. Faço museus invisíveis para os olhos cansados de não querer olhar. Guardo os gritos, os gozos, as faltas. Mantenho-os comigo apenas porque não consigo deles me desvencilhar. Tudo isso, Marie, é a tentativa de organizar em pastas metafóricas os bibelôs do passado ontem hoje amanhã. Sim. Amanhã foi passado. Abstenho-me de sustos (de Vida). Quero hoje negar minha condição humana. Posso por essa noite existir junto a você no mundo das idéias esquecidas?

Um comentário:

Marie-Annie R. disse...

A Vida, essa sim q você fala tanto em curtas frases, deve ser esquecida.
Coloque o Malboro Light a pender sobre seu lábios e uma boa dose solidão. Você me ensinou. Mergulha e vem comigo...

Quem sabe não achamos cavalos-marinhos?