24 de setembro de 2010

Fui para o grande vazio, Ginnungagap.

12 de setembro de 2010

22:09



Um quarto. O vazio que dói dentro da cabeça oca. De súbito enxergo a  imagem do meu (constante) fracasso. Pela noite que adentra o quarto a vontade que engolfou-me foi a de me abraçar e chamar por Deus. Lembrei do ateísmo de meu pai e de como em seus últimos anos a descrença no homem o levou a acreditar n'Ele. No barulho da chuva não O encontrei; em meus dedos cruzados em minhas costas as únicas epifanias envolveram solidão & sabotagem. Chamei pela força que supus existir dentro de mim. Pedi por ajuda as outras que outrora fui e que quase-mortas me servem de deuses quando a chuva pontua os minutos que.
Sem respostas. Apenas o respirar daquela que, menor que eu e Ele, destroça as minhas crenças;  em mim e n'Ele. Acreditando em pequenas coisas perdi a capacidade de enxergar o grande, e nele me salvar. Da determinação sobraram apenas duas coisas nas quais não devo acreditar. Do dia sobram duas horas que, perigosas, instigam em mim a vontade de ser mais do que apenas isso. Um quarto.

24 de agosto de 2010

Carta, parte 1.

Antes de mais nada preciso dizer que não julgo-me única. Já vivi o suficiente para saber que a dor está em todos e para todos. Não há razão para perder-me em perguntas sobre como a vida me foi assim tão cruel. A vida é. As pessoas são. Tudo sobre o qual escreverei já aconteceu antes e acontecerá de novo - a roda viva que repete e repete e.
Então não desperdice seus argumentos dizendo sobre a minha capacidade de transformar o pequeno em grande. Já digo agora que a diferença entre tudo e nada te escapa pelos dedos. Não abra também a boca para enumerar as vezes que te concedi o perdão e trai minhas palavras  - nada entendes de perdão e nunca ouviste minhas palavras. Contenha-se nas reclamações sobre as metáforas que não entendes - se tivesses aberto os tantos livros que te dei talvez hoje compreendesses o epitáfio que presenteio ao nosso amor natimorto.
Não te desejo o melhor, querida. Desejo-te a mesma dor e tristeza que a mim inflingistes. Desejo-te as trevas. E não ouses me chamar por mesquinha ou má. Nunca fui simpatizante de pessoas superiores. Sou feita da mesma carne que a tua e sou capaz do mesmo ódio. Concedo-lhe assim meus votos de cólera.

18 de agosto de 2010

A dança da solidão.

Porque não me tocas? Porque foges do meu corpo quando te peço- e te peço. Nessa cama pequena de dois corpos & duas ausências. Tu não estás em mim há tantas noites. Porque não me permites terminar as sentenças e dizer que sinto-me estranha a ti. Não me beijes mais a testa, o respeito que de ti quero é o de amar-me por completo.  Se é noite escura enxergo para além desse universo de desamor as luzes-estrelas. Enxergo a subjtividade do querer ir além das paredes desse mundo que repudio. Não quero te levar comigo. As noites mornas me desolam. Suas dores são desculpas para lençol & travesseiro. Dizes não a luz que insisto em deixar entrar. Dizes não a mim. Foi a pior das coisas no pior dos tempos. Meu bem, diga-me então, porque não me tocas?

12 de agosto de 2010

I'm not sorry there's nothing to save.

Aconteceu. Os anos passaram por mim, lentos e metódicos. As manhãs, as tardes & noites vividas na mesma falta de pressa- e com a mesma urgência. A mesma tristeza. Os mesmos sorrisos. A tal falta que incorporou-se a mim desde o ano cinco. Era para teres me salvado de mim mesma- hoje não mais iria contigo ao inferno. Entendes desse inferno? Ele nasce e morre na mesma sentença de vida; deverias saber disso, deverias. O amanhecer, a gata, os cigarros, a pizza gelada e o amor diminuto.
Aconteceu,
meu bem,
e ninguém percebeu que a vida nos engoliu pela nossa própria falta de fome.

18 de julho de 2010

Petit mort.

Quantos sábados perdidos em lembranças insignificantes. Enquanto enrolas nos teus dedos rápidos promessas de amor regadas a vinho. Comovente é a saudade. Nem a fome, nem a falta de cigarro ou mesmo o frio- nada me coloca mais comovida quanto a saudade dos teus abraços quentes. Cinco minutos da tua ausência fodendo com a sanidade pouca que sobreviveu aos cinco minutos do teu percurso quarto-sala-porta. Você é a sombra que agora observa-me das árvores além da janela. Você é a chuva. No caos que instalou-se no meu apartamento perco-me no caminho automático até a cozinha e vejo-me na varanda fria e chuvosa. Se é a chuva então abro a boca e engulo a tua matéria gelada. Se é a sombra viro-me para a parede e sou apenas os contornos escuros. Não era para ter acontecido dessa forma. Mas de repente veio a fome, a chuva e o frio. De repente veio a solidão acompanhada pela banda que descobri e que canta a tua falta de direito em foder assim com os dias que em mim deveriam ser libertadores. Não era para ter acontecido dessa forma, mas foi exatamente assim que aconteceu. Comovida como o diabo encaro as noites fria & chuvosas que desenrolam-se a minha frente. Até que.

15 de julho de 2010

2046.


O homem morto na sala de jantar transcendeu a música. Enquanto nos relógios os minutos passam de eternidade em eternidade. Enquanto eu fumo cigarros imaginários pela carteira vazia & garganta inflamada. Enquanto a existência me toma toda a força e pequenas mortes enchem o cinzeiro vazio de cinzas.  O cheiro do incenso de rosas chega as minhas narinas como um lembrete de que arrumei a casa e lavei as roupas. Sentada na cama do meu fracasso há cinco horas, trinta infinitos e duas mortes espero que a porta se abra e fecho-me no vazio dessa existência rala.
(As palavras molhadas e perdidas, no deixá-las na janela e: chuva.)