13 de março de 2010

Baby,

Hoje não saí de casa. Inventei desculpas para não ir a aula e fiquei o dia inteiro em casa contando quantos cigarros ainda restavam no maço. Agora já é madrugada e tento retardar o último - ainda perdido dentro da minha bolsa. Nasceu em mim - do mesmo jeito que nasce todas as noites - uma vontade urgente de você. Tenho me mostrado tão previsível. Todas as noites por volta da mesma hora - duasequarentaeseis - algo grita em mim sobre essa necessidade que (ainda) tenho. Desligo computador, fecho as cortinas laranjas, coloco Damien Rice para tocar e me escondo no escuro dessa solidão que me engolfa. Há semanas essa é a minha rotina. Não arrumo a cama há dias, assim quando me deito apenas empurro as coisas para o lado e me encolho no espaço que consigo fazer surgir. Fico sempre no lado esquerdo e vezenquando faço algo cair no chão. Algumas roupas, o carregador do celular, Carne Trêmula, três sacolas de supermercado e a (nossa) gata. Escolho sempre as (mesmas) músicas mais calmas. Tudo tão metódico que já começo a chorar pela certeza do próximo refrão. Hoje pensei em te escrever. Contar dessas coisas que andam me acontecendo e que talvez você queira saber. (Deixa eu me enganar; por amor, me dê o presente da ilusão.) Escrevo calma pela certeza de que você não. Você essa imagem que criei sem rosto. Você apenas o sentimento ao qual me apego para não enlouquecer. Hoje li algo bonito e criei na minha cabeça um diálogo (monólogo!) baseado na minha necessidade pueril de mostrar as belezas do meu caminho a você e esperar pela sua reação e. Dizia sobre amores brutos e sexo sujo e a beleza que coexiste a dor. Ou algo parecido. Estou pensando em adotar outra gata. Acho que a Frida gostaria de ter uma companhia- e eu adoraria um pouco mais de barulho nessa casa que transborda do silêncio da maçaneta que não gira e do telefone que não toca. Amanhã vou visitar minha mãe e jurar que está tudo bem - que não tem com o que se preocupar. E não estarei mentindo. Veja, baby, eu estou bem. Mesmo nos momentos tristes em que inspiro e expiro e inspiro e expiro para conter as lágrimas... Mesmo nessas horas não posso dizer que estou mal. Sinto a sua falta e por vezes imagino se tomei a decisão certa. Sei que sim. Fiz o que tinha que ser feito. Mas ainda te amo. E não imagino que esse amor vá acabar. Lembra daquela tarde naquele parque em te disse acreditar que amores - verdadeiros - eram eternos? Era disso que estava falando, baby, você se eternizou em mim e não gastarei tempo nem tinta tentando negar. (Já gastei tanta vida na tentativa de encobrir verdades com teorias mirabolantes.) Fumo o último cigarro e me arrumo para deitar. A Frida já dorme no meu travesseiro e as cortinas já estão fechadas. Sinto-me plena porque dessa vez me permito ser eu e assumo esses sentires que você sempre julgou como exageros. Então, baby, era isso que eu tinha para te dizer. Não me precisa responder, nem ler. Nessa noite tive boca e dedos e sentimentos sinceros. Nessa noite tive você sentada ao meu lado de uma forma até mais real do que nas vezes que você dormia nessa cama atrás de mim. Você que transborda nessas linhas que me deram, por talvez meia hora, um pouco de paz.

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