3 de janeiro de 2009

Carta ao meu amor- no dia 11 de novembro:

Estava pensando em algo enquanto esperava o ônibus. Era algo romântico e lindo de doer. Palavras que fariam a diferença, tenho certeza. Pensei em pegar meu caderno e escrever, mas decidi esperar chegar em casa e fazê-lo aqui. Em pensamento escrevi a você as linhas mais lindas que jamais foram escritas, mas as perdi. Faço força para lembrar. Quase consigo e, de repente!, some. Perdi para sempre as linhas que me fariam a melhor escritora e a mais devota amante. Um enorme desperdício.
Pensei que se você lá estivesse talvez eu já falasse as tais linhas, que seriam apenas palavras e nada teria sido perdido. Mas não. Eram linhas e tão bonitas porque eram feitas de saudade, tristeza e amor- amontoado de tudo isso que se alimentava da sua ausência.
Abri a janela para que a fumaça do cigarro que hora ou outra precisarei acender não empesteie o quarto. Já sei. Todo dia longe de ti vou te escrever algo. Farei dessas linhas a nossa conversa- você tão muda. Será que algo muda? Se nada mudar, então terei páginas e mais páginas de pequenas coisas que precisei escrever ao amor de minha vida. Amor de minha vida: isso não muda- isso é um grito.
Essa idéia de não saber onde você está me destrói. Qualquer ‘não saber’ me destrói. Quando em relação a você: caiu uma bomba e alguns dos meus pedaços os pombos já comeram.
Estava passando hoje no chafariz- aquele ao lado do mercado em que um dia vimos crianças tomando banho de piscina. Havia uma mulher chupando uma manga. Quem chupa uma manga no meio do centro da cidade, sentada na borda de um chafariz? Mais a frente vi dois homens brigando por que ‘ esse é o meu ponto!’. O dono do ponto tinha uma faca. Talvez fosse o ponto onde as pessoas vão para chupar vossas mangas de cada dia. Fiquei sem saber.
O telefone não quer tocar. Você não quer me ligar. Para que ter um telefone se você não vai me ligar? Soa-me completamente inútil a idéia. O seu número mudou a poucos dias, mas já consigo o discar até de olhos fechados. Bem rápido, assim, sem nem saber para quem estou discando. É automático ligar para você- mesmo que eu queira pedir uma pizza.
Se te ligar agora toda essa minha linha de conversa-com-meu-amor-que-não-está-conversando-comigo vai ser quebrada. Mas a vontade é tanta! Tanta! Vai me atender mal, tenho certeza. Está tão brava comigo. Disse que não quer mais nada comigo, que acabou. Eu não aceito. Sou criança que não quer largar o pirulito- como você disse. Por isso vou te ligar e ser maltratada e, aí, vai lá saber o que vai ser de mim o resto da noite.

Um comentário:

Jordano Souza disse...

Nossa,já passei por isso demais,sempre quando estou caminhando penso em algo mágico pra escrever,quando chego em casa tudo evapora!!
Agora eu ando com um gravador no bolso,ai as vezes pareço um louco na rua falando sozinho...