1 de março de 2010

'No heart so true':

Talvez o sonho tenha sido uma espécie de aviso meu para mim do afago maldito que acordar-me-ia quando há duas horas o dia havia sido cortado ao meio. A vida brilhando de luz mecânica e minhas mãos sonolentas procurando o motivo daquela música de dias onde o nós ainda era apenas primeira pessoa do plural.
-Depois do caos cair sobre esse apartamento de quatro cômodos e os monstros do desamor serem expurgados em palavras e gestos e sangue coagulado. Depois da sinfonia dos gritos que, de uma só vez, recusaram-se a morrer dentro da boca fechada. Depois da discecação de um amor todo errado aberto com órgãos expostos e a ausência de vida nos embrulhando o estômago. Então eu não esperava ouvir de ti: muito menos da vida-luz-mecânica.
Metade acordada e metade dormindo respondi as perguntas, mas não ousei fazer nenhuma. Eu-estou-bem-e-não-quero-te-visitar-e-fico-feliz-pela-vida-vivendo-para-além-da-morte-do-amor.
Esse conversar banalidades depois de teres me visto nua vestida em vísceras e desespero. Depois de teres rido do amor sobre o qual nunca tive nenhum controle. E o depois só exisitiu por termos sobrevivido ao presente que agora já passado.
Digo, então, sob meu trono de rainha do exagero dos sentires que não mais me acorde para me apunhalar com facas cegas. Da linha direta da linguagem entre tu e eu não ouvirás sequer um suspiro de saudade. (As lágrimas apenas existem a noite quando, no escuro do quarto, posso as esconder de mim mesma.)

2 comentários:

Marie-Annie R. disse...

Essa é a Natália Pinheiro q eu começo e amo tanto.
Continue assim.

Laryssa Hallak disse...

E eu não vou me cansar de dizer que você escreve perfeitamente bem. *-*