Era preciso um tremendo esforço para levantar-me da cama e atender o interfone que gritava alto na parede da cozinha. Todo dia tenho que reaprender a andar- meus pés tem o peso de todos os sonhos que sonhei no mundo perfeito dos meus olhos fechados. As minhas pálpebras deixam o monstro do lado de fora.
Esse apartamento que odeio. Essa cama que é pequena demais para abrigar nós duas e os trinta e oito fantasmas. Esse cobertor xadrez que cobre a janela. Essa parede da cor errada. Esse ventilador que incomoda meus olhos. Essas lentes de contato vencidas há meses. Essa tatuagem sempre inacabada. Essa merda toda.
O medo do claro. O pavor de tudo que é exterior a mim. E, enfim: o pavor de mim mesma.
Que venham os sonhos. Que parem os gritos vindo da parede da cozinha.
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