6 de novembro de 2007

Outro trecho.

Vejo na janela do carro as gotas caindo. Cada gota representa uma lágrima há tanto tempo derramada e que a cada chuva volta e me faz lembrar da dor.
De que tanto dor eu falo? A dor que cabe a todos os que vivem. A dor de acordar pela manhã e ficar pensando em como esse dia será como todos os outros. A dor da monotonia que ri de nossos olhos tristes por ter que fazer tudo tudo tudo sempre igual.
Olho pela janela e vejo o mercado público. Penso em beber.
Olho pela janela e vejo o morro. Penso em cheirar.
Cada lugar tem um vício. Sou viciada a tudo que possa me fazer sentir melhor, mesmo que dure menos do que um suspiro.
E quando olho para Ele. Ó,quando olho para Ele quero viver ao seu lado e tanto e tudo. Às vezes acaricio seu rosto e sua pele é quente e é nela que quero me esquentar- estou gelada desde que.
E a outra que não sei quem é, mas sei que existe. Ela existe e o possui. Eu existo e nada tenho.
A chuva não pára. O tempo triste: não me contenho e também choro. Choro pela vida triste e sempre igual. Choro por você e por mim.
Meus passos são incertos, sempre andei com os pés para fora. Talvez esse ‘não saber andar’ tenha algo a ver com tantos caminhos errados que percorri.
Faz tanto tempo. A cidade não é a mesma e as pessoas também mudaram, mas parece que eu fiquei estagnada nos primeiros degraus daquela longa escada.
Acham que eu não sei da minha vida errada. Acham que sou burra o suficiente para achar que isso está certo. Eu sei que não está, mas não sei como fazer para tomar o rumo certo.
A falta d’Ele me enerva. Gostaria de poder mantê-lo em um armário e cada vez que quisesse abriria a porta e lá estaria o meu amor a minha espera.
Sou egoísta e quero tudo para mim. Mas o tudo é Ele, então não é tanta coisa assim.
Ninguém se mostrou muito confiante em mim. Não duvido que houveram apostas para minha recaída. Mas nem eu sei. Ensinaram-me o só por hoje e só por hoje estou escrevendo as minhas coisas.
É difícil escrever sobre a bagunça que minha vida se transformou. Os dias que se prolongavam em dias e noites corridos onde tudo o que eu fazia era para arrumar cocaína. E para que? Para ter um pouco de alívio desse peso imenso que esta comprimindo meu peito. Um elefante sentado sobre mim.
Talvez o meu problema seja a espera. Um banco de praça. Um telefonema. Estou sempre esperando que alguém apareça ou ligue para então, e só então, tomar alguma atitude.
Tenho medo de ir sozinha por esses terrenos tão estranhos. Eles dizem que para quem subia morros a procura de droga no meio da noite nada vai ser perigoso. O que eles não entendem é que eu subia esperando pelo perigo, e quando o perigo não vinha sentia-me frustrada.
Talvez minha vida não era para ser. Apenas aconteceu em um susto de amor. E eu fiquei assim para sempre esperando o mesmo amor que me deu origem.
Eu queria declarações e rosas e presentes. Eu queria tanta coisa bonita e por algum motivo acabei me colocando em um mundo onde tudo é feio, onde não há flores e muito menos amor.

2 comentários:

Rebecca Loise disse...

queria bater na tua porta com lírios nas mãos pra dizer que tua alma é rica e tuas letras valem a pena!
te amo, naty!

Marie-Annie R. disse...

Menina...tu escreves coisas lindas, e mesmo já tendo lido e 'vivido' algumas de tuas palavras posso afirmar que estas são as mais lindas palavras com mais sentimento sincero que pudi até hoje ler de tua alma.
Citando Rebecca: "Tua alma é rica", tu mereces as mais belas flores colidas nas manhãs em que o orvalho ainda não havia as deixado.
Ti adoro por demais,
Beijos.