26 de fevereiro de 2010

Para não morrer mudo.

A noite entra pela janela aberta: a brisa que anuncia a chegada do outono acaricia meu rosto. Você dorme na cama que um dia foi nossa. Sou tomada por uma tristeza que faz jus ao tamanho do nosso amor. A claridade do computador ilumina a janela e por vezes quase posso enxergar o amor saindo rumo a nunca mais.
Começo a reler cada carta. Não posso evitar uma lágrima de surgir a cada linha- nunca lidei bem com essa condição humana: nunca lidei bem com o fim. Vezenquando você me pede para abaixar o volume. É, meu amor acabado, depois de dois anos do maior amor do mundo nossas últimas palavras serão sobre o som estar alto demais. Se você pudesse enxergar com os meus olhos talvez o silêncio brutal de quando não há mais nada a ser dito se sobrepusesse a voz de Basia Bulat. Mas talvez tenha sido esse o grande problema: nunca enxergamos nada com os mesmos olhos, quiçá jamais ao menos olhamos para a mesma direção. Outro fim não seria possível para essa vida que vivemos juntas. Sempre fui eu que fiquei acordada me derramando em tinta enquanto seu respirar de sono vinha de debaixo das cobertas de verão. A saudade do que nunca vai ser não corrói tanto agora. A vontade de viver outros mundos me dá certo conforto. Concerto número 5 é antídoto para o silêncio que me doia.
Então foi assim. Vivemos a vida que nos foi dada e agora já é tempo de morrer para o nós. Agora já é tempo de não te escrever linhas que você nunca lê. Agora já é tempo.

Um comentário:

Marie-Annie R. disse...

"(...)nunca enxergamos nada com os mesmos olhos, quiçá jamais ao menos olhamos para a mesma direção(...)"

Se falasses mais a verdade, acho q não choveria tanto...
Só o fato da realidade aparecer na sua frente, sendo q ela sempre estava lá, já é bom.