30 de outubro de 2007

Trecho:

Quando o carro parou em um farol vi através do vidro da frente tantas pessoas atravessando ao mesmo tempo. Uma massa humana que não tem nada de único ou de específico: apenas uma massa humana.
Cada um ali tinha sua vida, suas dores e suas alegrias. Mas assim, tão juntos, não são nada além de pessoas atravessando o farol indo para algum lugar ou vindo de outro.
Apesar da chuva acendi um cigarro e abri um pouco a janela. Estava saindo de um hospital, de uma clínica psiquiátrica e tudo parecia estranhamente igual. Nada mudou enquanto estive fora. As ruas eram as mesmas, as pessoas tinham a mesma pressa, o mar estava no mesmo lugar. Não importa quanto tempo você fique fora, as coisas sempre vão parecer iguais. E esse parecer igual foi o que me incomodou de um modo infernal.Talvez estive esperando por um tapete vermelho a minha espera, ou quem saiba tudo que eu queria era um abraço e um beijo. Um ou outro, fica aqui registrado que não recebi.
Agora estou do lado de lá das grades: agora estou no mundo. E o mundo não se mostra muito mais interessante do que aquelas camas brancas e paredes brancas e tudo branco. O mundo também é branco. Tudo tão pálido e sem vida. Antes as minhas palavras tinham vida, mas agora tudo parece estar morto.

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